Física,Química,Matemática(Atividades para os Alunos)

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Empresa privada quer ir à Lua


Instituto Americano de Estudos Espaciais, uma organização particular de pesquisa, pretende construir e lançar uma sonda-robô à Lua para realizar pesquisas.
O mais novo visitante da Lua poderá ser um cilindro de 1.5 metro de diâmetro, 227 quilos e uma série de antenas. Pelo menos essa é a intenção do Instituto Americano de Estudos Espaciais, uma organização particular de pesquisas, de Princeton, Nova Jersey. Até 1992, a entidade pretende construir e lançar o Lunar Prospector, uma cilíndrica sonda robô dotada de cinco instrumentos de rastreamento, para mapear eventuais depósitos de recursos minerais, localizando ainda as geleiras que poderiam abastecer de água uma futura base americana. Pelo menos, milhões de dólares serão necessários para levar adiante o projeto, que conta com o apoio da NASA. Esse custo, já pequeno em relação ao padrão habitual das missões espaciais, pode ficar ainda menor se o robô for lançado junto com algum satélite de comunicação.

Revista Super Interessante n° 033

Defesas contra a astrologia



Andrew Fraknoi
Dez perguntas e um punhado de informações constrangedoras para quem acredita que os astros influem sobre a vida humana.

Acontece com todos nós – astrônomos profissionais, amadores ativos e curiosos preguiçosos. É só falarmos a alguém de nosso interesse nos céus e rapidamente nos vemos arrastados a um debate sobre astrologia. Para muitos de nós é difícil saber como reagir educadamente a alguém que leva a sério essa antiga superstição. A revelação, feita no ano passado, de que as agendas diárias da Casa Branca, no tempo do presidente Reagan, eram acertadas e reajustadas com base nas previsões de uma astróloga de São Francisco trouxe um novo foco de atenção à ampla aceitação da astrologia por parte do público. Mais do que nunca, qualquer pessoa está sujeita a se envolver numa discussão sobre o valor e a eficácia da astrologia. Assim, eis aqui um guia de fácil acesso para algumas das respostas que se pode dar às alegações dos astrólogos. A base da astrologia não poderia ser mais simples: o caráter e o destino de uma pessoa podem ser entendidos a partir das posições do Sol, da Lua e dos planetas no instante do nascimento. Interpretando a posição desses corpos celestes, mediante o uso de um mapa chamado horóscopo, os astrólogos alega, prever e explicar o curso da vida e ainda ajudar pessoas, empresas e até nações em decisões de grande importância. Por mais implausíveis que essas alegações possam soar aos ouvidos de quem saiba o que realmente são e quão distantes estão o Sol, a Lua e os planetas, uma pesquisa do Gallup, realizada em 1984, revelou que 55 por cento dos adolescentes americanos acreditam em astrologia. E, diariamente, milhares de pessoas baseiam cruciais decisões médicas, profissionais e pessoais em conselhos recebidos de astrólogos e de publicações dedicadas à astrologia.
Os detalhes de suas origens exatas perdem-se na Antiguidade, mas a astrologia tem, pelo menos, milhares de anos de idade e aparece sob diversas formas em muitas culturas. Ela surgiu em uma época em que a visão que a humanidade tinha do mundo era dominada pela magia e pela superstição, quando a necessidade de compreender os padrões da natureza era frequentemente uma questão de vida ou morte.
Os corpos celestes, naquele tempo, pareciam ser deuses ou espíritos importantes ou, pelo menos, símbolos ou representantes de personagens divinos, que pareciam passar o tempo mexendo com as vidas diárias dos seres humanos. As pessoas procuravam ansiosamente no céu sinais que lhes permitissem descobrir o que os deuses fariam em seguida.
Considerado nesse contexto, um sistema que relacionasse os planetas brilhantes e as constelações zodiacais às significativas questões da vida tinha tudo para ser atraente e tranquilizador. E mesmo hoje, apesar de tantos esforços empregados no ensino e na divulgação da ciência, para muita gente o apelo da astrologia não diminuiu. Para essas pessoas, pensar no planeta Vênus como um mundo deserto, coberto de nuvens e quente como um forno é muito menos sedutor do que vê-lo como uma fonte de ajuda na hora de decidir um casamento. Uma boa maneira de começar a pensar na perspectiva astrológica é dar uma olhada cética, mas bem-humorada, nas consequências lógicas de algumas de suas alegações. Aqui estão minhas dez perguntas favoritas aos defensores da astrologia.

Qual a probabilidade de que 1/12 da população mundial esteja tendo o mesmo tipo de dia?
Os astrólogos que publicam horóscopos nos jornais (que aparecem em mais de 1200 diários, só nos Estados Unidos) asseguram que você pode saber algo sobre seu dia lendo um dos doze parágrafos no seu matutino predileto. Uma divisão elementar mostra que 400 milhões de pessoas pelo mundo afora terão o mesmo tipo de dia, todo santo dia. Dada a necessidade de atender a tantas expectativas ao mesmo tempo, torna-se claro o motivo pelo qual as previsões astrológicas  vem acondicionadas em um palavreado o mais vago e o mais genérico possível.

Por que a hora do nascimento, e não a da concepção, é crucial para a astrologia?
A astrologia parece científica para algumas pessoas porque o horóscopo é baseado em um dado exato: o tempo do nascimento de cada um. Quando a astrologia foi estabelecida, há muito tempo, o instante do nascimento era considerado o ponto mágico da criação da vida. Mas hoje entendemos o nascimento como o ponto culminante de um desenvolvimento ininterrupto de nove meses dentro do útero. Tanto assim que atualmente cientistas acreditam que muitos aspectos da personalidade de uma criança são estabelecidos muito antes elo nascimento. Suspeito que o motivo pelo qual os astrólogos ainda se mantêm fiéis ao momento do nascimento tem pouco a ver com a “teoria” astrológica. Quase todo cliente sabe quando nasceu, mas é difícil (e talvez embaraçoso) identificar o momento da concepção de uma pessoa.

Se o útero da mãe pode afastar influências astrológicas até o nascimento, será que podemos fazer a mesma coisa com um pedaço de filé?
Se  forças tão poderosas emanam do céu, por que elas são inibidas antes do nascimento por uma fina camada protetora feita de músculo, carne e pele? Se o horóscopo potencial de um bebê for insatisfatório, será que poderíamos retardar a ação das influências astrológicas circundando imediatamente o recém-nascido com um naco de carne até que os Signos celestiais fiquem mais auspiciosos?

Se os astrólogos são tão bons quanto afirmam, por que eles não são mais ricos?
Alguns astrólogos respondem que não podem prever eventos específicos, apenas tendências amplas. Outros alegam ter o poder de prever grandes eventos, mas não pequenos acontecimentos. Mas, seja como for, os astrólogos poderiam ganhar bilhões prevendo comportamento geral do mercado de ações ou do mercado futuro de ouro - assim não precisariam cobrar consultas tão caras de seus clientes. Em outubro de 1987, quantos astrólogos previram a Segunda-Feira Negra na Bolsa de Valores de Nova Yourk e advertiram seus clientes a respeito?

Estarão incorretos todos os horóscopos feitos antes da descoberta dos três planetas mais distantes?
Alguns astrólogos afirmam que o signo do Sol (a localização do Sol no zodíaco no instante do nascimento), usado exclusivamente por muitos horóscopos de jornais, é um guia inadequado para os efeitos do Cosmo. Esses praticantes “sérios" (geralmente aqueles que perderam o lucrativo negócio das colunas de astrologia na imprensa) insistem que a influência de todos os corpos principais no sistema solar deve ser levada em consideração - incluindo Urano, Netuno e Plutão, que somente foram descobertos em 1781, 1846 e 1930, respectivamente. Nesse caso, o que será que acontece com a alegação de alguns astrólogos, segundo a qual sua arte tem permitido previsões corretas durante muitos séculos? Não estarão errados todos os horóscopos traçados antes de 1930? E por que as imprecisões dos antigos horóscopos não levaram os astrólogos a deduzir a presença de Urano, Netuno e Plutão muito antes que os astrônomos os descobrissem? E que acontecerá se os astrônomos descobrirem um décimo planeta? E que dizer dos asteróides e das luas do tamanho de planetas, localizados na periferia do sistema solar?

Não deveríamos condenar a astrologia como uma forma de intolerância?
Numa sociedade civilizada, deploramos todos os sistemas que julgam os indivíduos meramente pelo sexo, cor da pele, religião, nacionalidade ou por quaisquer outros acasos de nascimento. No entanto, os astrólogos alardeiam que podem avaliar as pessoas baseados em outro acaso de nascimento - as posições dos corpos celestes. Será que a recusa em namorar alguém do signo de Leão ou de empregar alguém de Virgem não é tão condenável quanto a recusa em namorar um protestante ou dar emprego a um negro?

Por que diferentes escolas de astrologia discordam tão frontalmente entre si?
Os astrólogos parecem discordar em relação às questões mais fundamentais de seu ofício: levar ou não em conta a precessão (o movimento) do eixo da Terra, quantos planetas e outros corpos celestes devem ser incluídos e principalmente - que traços de personalidade devem ser atribuídos aos fenômenos cósmicos. Leiam-se dez colunas diferentes sobre astrologia, ou consultem-se dez diferentes astrólogos e provavelmente se sairá com dez interpretações diferentes. Se a astrologia fosse uma ciência, como seus proponentes sustentam, por que seus praticantes não estão convergindo para uma teoria consensual depois de milhares de anos de coleta de dados e de refinamento de sua interpretação? Idéias científicas geralmente convergem com o passar do tempo, na medida em que são testadas em laboratórios e cotejadas com outras evidências. Em contraste, sistemas baseados em superstição ou em crença pessoal tendem a divergir, pois seus praticantes vão esculpindo nichos separados enquanto se acotovelam na disputa por poder, riqueza ou prestígio.

Se a influência astrológica é exercida por alguma força conhecida, por que os planetas dominam?
Se os efeitos da astrologia podem ser atribuídos à gravidade, à força das marés ou ao magnetismo (cada qual invocado por uma escola diferente), mesmo um calouro em Física poderia realizar os cálculos necessários para ver o que realmente afeta um recém-nascido. Esses cálculos estão formulados para muitos casos diferentes no livro Astrology: frue or false (Astrologia: verdade ou mentira,  ainda não editado no Brasil), de Roger Culver e Philip Ianna.
Por exemplo, o obstetra que faz o parto exerce um força gravitacional cerca de seis vezes superior à Marte e cerca de dois trilhões de vezes maior do que a da maré. O médico pode ter muito menos massa do que o planeta vermelho, mas estará muito mais perto do bebê.

Se a influência astrológica é exercida por uma força desconhecida, por que não depende da distância?
Todas as forças de longo alcance conhecidas no Universo ficam mais fracas à medida que os objetos se distanciam. Mas, como seria de esperar de um sistema que tivesse a Terra no sue centro, imaginado há milhares de anos, as influências astrológicas não dependem em nada da distância. A importância de Marte em um dado horóscopo é idêntica, esteja o planeta do mesmo lado do Sol que a Terra ou sete vezes mais distante, do outro lado. Uma força independente da distância seria uma descoberta revolucionária.

Se a influência astrológica não depende da distância, por que não existe astrologia de estrelas, galáxias e quasares?
O astrônomo francês Jean-Claude Pecker observou que os astrólogos parecem ter uma mente muito estreita quando limitam seu ofício a nosso sistema solar. Bilhões de estupendos corpos espalhados por todo o Universo deveriam somar sua influência à dos nossos  pequenos Sol, Lua e planetas. Será que um cliente, cujo horóscopo omite seus efeitos de Rigel, do pulsar do Caranguejo e da galáxia M31, recebeu um mapa astrológico realmente completo?
Mesmo se concedermos aos astrólogos o benefício da dúvida em todas essas questões – aceitando que possam existir influências astrológicas além de nosso conhecimento atual do Universo -, há um devastador pormenor final. A astrologia simplesmente não funciona. Muitos testes comprovaram que, a despeito de suas alegações, os astrólogos não podem prever coisa alguma. Afinal de contas, não precisamos saber como algo funciona para perceber se funciona. Durante as duas últimas décadas, enquanto os astrólogos sempre estavam de alguma forma muito  ocupados para conduzir testes estatisticamente válidos de seu trabalho, cientistas físicos e sociais o fizeram por eles. Consideremos alguns estudos representativos.
O psicólogo Bernard Silverman, da Universidade de Michigan, estudou as datas de nascimento de 5956 pessoas que estavam casando e de 956 outras que estavam se divorciando. A maioria dos astrólogos afirma que podem ao menos prever quais os signos astrológicos compatíveis ou incompatíveis quando se trata de pessoas. Silverman comparou tais previsões com os registros reais e não encontrou nenhuma correlação. Homens e mulheres com “signos compatíveis” casaram e se divorciaram com a mesma frequência de casais com “signos compatíveis”. Muitos astrólogos insistem que o signo do Sol de uma pessoa se relaciona fortemente com a escolha de sua profissão. Realmente, o aconselhamento vocacional é uma importante função da moderna astrologia. O físico John McGervey, da Universidade Case western Reserve, de Cleveland, analisou biografias e datas de nascimentos de cerca de 6 mil políticos e 17 mil cientistas para ver se os membros dessas profissões estariam agrupados em certos signos, como os astrólogos predizem. Ele verificou que os signos de ambos os grupos se distribuíam completamente ao acaso.
Para superar as objeções que seriam levantadas por astrólogos que acham que apenas o signo é insuficiente para uma avaliação, o físico Shwan Carlson, do Laboratório Lawrence Berkley, realizou  um engenhoso experimento. Grupos de voluntários foram solicitados a dar as necessárias informações para a preparação de um horóscopo completo e a preencher o chamado California Personality lnventory, um questionário padrão empregado pelos psicólogos, que trabalha apenas com o mesmo tipo de termos descritivos, genéricos e amplos que os astrólogos utilizam. Uma "respeitada" organização astrológica construiu horóscopos para os voluntários enquanto 28 astrólogos profissionais, que haviam aprovado o procedimento antecipadamente, receberam cada qual um horóscopo e três perfis de personalidade, um dos quais pertencia ao sujeito do horóscopo. A tarefa deles era interpretar o horóscopo e determinar a qual dos três perfis ele correspondia.
Embora os astrólogos tivessem previsto um resultado superior a 50 por cento de acertos, o resultado final, em 116 tentativas, foi de apenas 34 por cento de acertos - exatamente o que se pode esperar de simples palpites. Carlson publicou seus resultados na edição de 5 de dezembro de 1985 da revista científica Nature, para grande constrangimento da comunidade astrológica. Outros testes mostram que pouco importa o que diga um horóscopo, desde que a pessoa sinta que as interpretações foram feitas para ela, pessoalmente. Poucos anos atrás, o estatístico francês Michel Gauquelin enviou a 150 pessoas o mapa astral de um dos piores assassinos da história francesa e perguntou-lhes se elas se identificavam com aquela descrição. Noventa e quatro por cento das pessoas responderam que se reconheciam naquele mapa.
Os astrônomos Culver e Ianna verificaram que, de mais de 3 mil previsões de astrólogos conhecidos (muitas das quais sobre políticos, artistas de cinema e outras pessoas famosas), somente cerca de 10 por cento deram certo, Se as estrelas levam os astrólogos a nove previsões incorretas em cada dez tentativas, elas dificilmente podem ser consideradas como guias confiáveis para quaisquer decisões. Evidentemente, aqueles de nós que amam a Astronomia não podem simplesmente esperar que desapareça a paixão desenfreada do público pela astrologia. Devemos nos manifestar contra ela, sempre que necessário ou apropriado, debatendo as suas deficiências e encorajando um interesse pelo Cosmo real, de mundos e sóis remotos, que piedosamente não estão preocupados com as vidas e os desejos das criaturas do planeta Terra. Não devemos permitir que mais uma geração de jovens cresça algemada a uma antiga fantasia, resquício de um tempo em que o homem se encolhia perto do fogo, com medo da noite.

E agora, a jatologia
Uma boa maneira de fazer com que as pessoas pensem sobre a validade da astrologia é inventar uma “ciência” similar, porém não tão curvada ao peso da tradição e da história: a jatologia. Ela garante que as posições dos Jumbos em vôo no mundo inteiro, no instante do nascimento de uma pessoa, afetam sua personalidade e seu destino. Para obter os benefícios totais de um mapa jatológico, um jatólogo profissional deve analisar cuidadosamente o padrão das posições dos jatos em todo om mundo. (Como é necessário um computador para ajudar a colher os dados e organizá-los, a jatologia deve ser uma disciplina científica.) Mas, mesmo quando seu mapa jatológico estiver terminado, o leigo não será capaz de interpretá-lo. Anos de treinamento são necessários para que o mapa seja adequadamente analisado. Tome-se por exemplo o congestionamento habitual de aviões dobre o aeroporto O'Hare, em Chicago – seu significado para a vida amorosa da pessoa exigirá muito estudo de um jatólogo experiente.
Se esta proposta fizer alguém sorrir, talvez seja o caso de perguntar qual é a graça. Afinal de contas, as posições daqueles objetos no céu devem ter algo com as nossas vidas. Ou não?

US$10 mil para quem achar o Sol
A 11 de julho de 1991, a sombra da Lua irá se estender sobre o hemisfério ocidental, fazendo com que milhões de pessoas mergulhem na escuridão durante o mais longo eclipse total do Sol. Outro igual só ocorrerá no ano de 2132. Essa mesma escuridão, no entanto, irradiará uma nova luz sobre as alegações dos astrólogos se Ben Mayer, um astrônomo amador de Los Angeles, conseguir seu intento. Mayer lançou o Desafio de Gêmeos, oferecendo um prêmio de 10 mil dólares. As regras são simples: produza uma fotografia autêntica, mostrando o Sol eclipsado no dia 11 de julho de 1991 contra as estrelas da constelação de Câncer – e o prêmio será seu. Mas, antes, saiba que no dia 11 de julho de 1991 o Sol estará quase diretamente em frente à estrela Delta de Gêmeos e quase 10 graus fora da fronteira de Câncer. Somente os astrólogos afirmam que o Sol estará em Câncer nessa data.
Qualquer horóscopo de jornal dirá que alguém nascido entre 21 de junho e 21 de julho é do signo de Câncer. Assim, no dia 11 de julho, é de esperar que o Sol esteja mais ou menos no meio da constelação de Câncer. E é provável que de fato tenha estado - há milhares ele anos, quando os astrólogos elaboraram mapas de posições do Sol, da Lua e dos planetas, para ajudá-los em seus horóscopos. Mas, com o passar dos séculos, mudou lentamente o momento do ano em que o Sol está em determinada constelação. Hoje, os astrólogos ocultam essa discrepância referindo-se a "signos" astrológicos, e não às estrelas propriamente ditas.
É aí que entra o Desafio de Gêmeos. Durante o eclipse de 1991, quando  o Sol ficar encoberto, Mayer quer que as pessoas vejam por si mesmas se o Sol está realmente na constelação de Gêmeos. Se assim é, por que inventar um concurso que ninguém pode ganhar? Mayer acredita que, olhando o céu, as pessoas aprenderão a verdade sobre a astrologia, embora ele próprio se guarde de dizer o que acha dela. Talvez queira apenas que as pessoas vejam a beleza das estrelas.

Revista Super Interessante n° 033

Por que as listras da pasta de dente não se misturam dentro do tubo?



Primeiro, porque os ingredientes de cores diferentes ficam armazenados em compartimentos separados. Segundo, porque as listras só aparecem perto da boca do tubo. A bisnaga inteira é preenchida por creme dental comum, de cor branca. Nas laterais superiores do tubo, encontramos o gel colorido que dá forma às listras. O segredo é que o gel e o creme seguem por "estradas" exclusivas até bem perto da saída. A parte branca sobe por um duto que tem pouco mais de meio centímetro de diâmetro, a mesma dimensão da pasta que chega até a escova. O gel, por sua vez, flui por quatro buraquinhos de 1 milímetro que desembocam no duto principal. Lá dentro, as pequenas saídas de gel interceptam o fluxo de pasta branca e as listras coloridas começam a se espalhar pelo creme. Como isso acontece a apenas 1,5 centímetro da saída, os filetes coloridos saem quase intactos. Eles só vão se juntar dentro da boca, na hora em que a gente escova os dentes.
Cada cor no seu canto

Confinado em compartimentos que o separam do creme branco, o gel colorido só se mistura á pasta 1,5 centímetro antes da boca do tubo. Isso preserva as listras e impede que o creme dental vire uma mistureba de cores.
Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Por que alguns atletas têm mortes fulminantes?



Eles estão sujeitos a mortes súbitas na mesma frequência que indivíduos comuns e sedentários. Para isso, basta o atleta ter predisposição ou uma doença crônica. "Como são pessoas públicas, eles são mais  observados que um cidadão comum e o caso se torna maior. Mas mortes súbitas sempre aconteceram, não estão aumentando", diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, da Unifesp. Calcula-se que no Brasil, a cada ano, cerca de 160 mil pessoas sejam vítimas de mortes fulminantes. Só que isso não rende muita notícia. Mas basta a vítima ser um atleta mais conhecido, como o jogador de futebol camaronês Marc Vivian Foe, para o caso ganhar os jornais. É bom lembrar, porém, que algumas características do dia-a-dia dos atletas são fatores agravantes. A hipertermia, ou seja, o aquecimento excessivo do corpo, especialmente em dias de calor e alta umidade do ar, é um deles. Outro é o possível uso de anabolizantes, pois o usuário tende a ter um aumento no nível de colesterol, o que compromete as funções cardíacas. Por falar nisso, ao contrário do que se pensa, essas mortes repentinas não são sempre relacionadas ao coração. Também podem acontecer óbitos fulminantes ligados a problemas pulmonares ou neurológicos. Para evitar novos sustos, os médicos recomendam, além de exames preventivos mais rigorosos, que os estádios e ginásios passem a contar com mais recursos, como aparelhos adequados para ressuscitação.
 Luto em campo
Quatro casos de óbitos ligados ao futebol apenas nos últimos 11 meses.

Quem morreu: Marc Vivian Foe, da Seleção de Camarões, em junho de 2003.
O que aconteceu: Na partida Camarões 1 x 0 Colômbia, transmitida ao vivo para o mundo todo, Foe, de 28 anos, caiu inconsciente. Há dúvidas se ele teve uma parada cardíaca ou se morreu por um problema neurológico

Quem morreu: Maximiliano Ferreira, do Botafogo (SP), em julho de 2003.
O que aconteceu: Num treino pela equipe de Ribeirão Preto, o zagueiro de 21 anos reclamou de tontura, caiu e teve uma convulsão. Acredita-se que um aneurisma (dilatação de uma artéria ou veia) tenha gerado uma parada cardíaca.

Quem morreu: Miklos Fehér, do Benfica (Portugal), em janeiro de 2004.
O que aconteceu: O atacante húngaro de 24 anos entrou no segundo tempo do jogo Benfica 1 x 0 Vitória. Após receber um cartão amarelo, caiu. Os médicos têm duas hipóteses: má-formação cardíaca ou problemas pulmonares.

Quem morreu: Daniel Uribe, do Alfonso Ugarte (Peru), em março de 2004.
O que aconteceu: Na partida do seu time contra o Alianza Quetepampa, o goleiro de 17 anos aquecia perto do gol quando desmaiou. Médicos fizeram os primeiros socorros, levaram Daniel para o hospital, mas não adiantou. Foi diagnosticado um infarto.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Por que o Campeonato Brasileiro só começou a ser disputado em 1971?



A dimensão continental do Brasil não ajudou. Ingleses, italianos e argentinos disputam títulos nacionais desde o fim do século 19, mas os times desses países podiam percorrer suas nações inteiras de trem em poucas horas, o que era impossível por aqui. Mesmo assim, não faltaram tentativas de se criar um Brasileirão antes dos anos 70. Veja quais foram os principais torneios nacionais pré-1971:
Torneio de Seleções
Surgiu em 1922, mas não era disputado por times, e sim pelos melhores jogadores de cada estado. Batizado de Campeonato Brasileiro de Seleções, ele foi o mais importante torneio nacional até os anos 50, tendo sido disputado regularmente até 1963.
Rio-São Paulo
É de 1933 e foi o pioneiro interestadual entre times. Realizado junto com os campeonatos paulista e carioca, seus jogos podiam valer tanto para o Rio-SP como para os torneios locais. Durou até 1966 - nos anos 90, foi ressuscitado sem sucesso.
Taça Brasil
Em 1960 seria disputada a  primeira Taça Libertadores. Por isso, em 1959, foi criado um torneio para indicar o representante brasileiro. Nascia a Taça Brasil, que era semelhante à atual Copa do Brasil, reunindo times de vários estados em jogos eliminatórios. Durou até 1968.
"Robertão"
Em 1967 surgiu o mais acabado embrião do atual Brasileirão. O Torneio Roberto Gomes Pedrosa (o "Robertão" ou Taça de Prata) era disputado por times do eixo Rio-SP e os principais clubes de estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O último "Robertão" aconteceu em 1970, um ano antes do Brasileirão.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Como o cabelo cresce?



Julia Moióli
Ele cresce por causa da divisão e multiplicação de um tipo de célula, os queratinócitos. Eles se localizam no bulbo capilar, região das pequenas estruturas dentro da pele onde os fios se desenvolvem, os chamados folículos pilosos. "À medida que os queratinócitos se dividem, eles são empurrados para cima, fazendo o fio crescer", diz o dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo. O ciclo de vida dos fios da nossa juba tem três fases: nascimento, crescimento/repouso e queda. Cada um dos cerca de 5 milhões de folículos pilosos que você tem na cabeça pode repetir esse ciclo completo até 20 vezes ao longo da sua vida. Mas é claro que eles trabalham em ritmos diferentes. Por isso, nesse exato momento, você tem fios que estão nascendo, outros crescendo e por aí vai. Como o número de folículos é absurdo, a quantidade deles na fase da queda também é grande. Resultado: um jovem perde aproximadamente 100 fios de cabelo por dia! Isso é normal. Preocupante é quando esse número aumenta muito, o que pode ser o sinal de um fantasma que assusta os homens: a calvície. Os garotos que têm o pai careca são grandes candidatos a seguir o mesmo caminho, pois o problema é hereditário. Mas existem ainda casos de perda de cabelo por causa de doenças ou desgaste emocional sério - não é tanta cascata aquela história de que fulano ficou careca de preocupação... As mulheres, apesar de não serem as principais vítimas da calvície, também podem enfrentar fases de queda exagerada, como no período pós-parto. A preocupação com esse tipo de problema é mais do que natural, já que o cabelo é um importante símbolo de beleza. E até por conta disso surgiram os mais diversos mitos sobre o assunto. Desde os mais curiosos (e menos higiênicos), como "não se deve lavar os cabelos com freqüência para evitar que eles caiam", até os seguidos à risca pelas mulheres, como "é preciso aparar para crescer". Os dois, aliás, são só crendices populares.
Papo cabeça
Um fio dura cerca de seis anos e pode atingir 1 metro de comprimento.
De ponta a ponta
Mesmo que você não corte o cabelo durante toda a vida, ele dificilmente chegará até seus pés. Por causa do ciclo de vida útil, o maior comprimento que um fio costuma atingir é 1 metro. É claro que existem exceções, como as pessoas recordistas em cabelos gigantes, que possuem fios com um tempo de sobrevivência anormal.
Vida agitada
Cada fio vive cerca de seis anos. São até cinco anos na fase de nascimento, algumas semanas na de crescimento/repouso e mais alguns meses se preparando para a queda. O crescimento de cerca de 1 cm por mês ocorre da raiz (que fica no folículo piloso) para a ponta. Por ser sensível à luz, o cabelo cresce mais rápido de dia e no verão e continua se desenvolvendo até 24 horas após a morte da pessoa.
Por um fio
A calvície é hereditária e determinada geneticamente. Mas nem sempre significa perda total de cabelos. Muitas vezes ocorre só o que os médicos chamam de miniaturização dos folículos: ou seja, essas estruturas diminuem de tamanho, deixando os fios mais finos. Eventualmente os folículos podem morrer, mas isso não é regra.
Deu no couro
A caspa, aquela espécie de "farelo" branco que se espalha por algumas cabeças, é uma descamação do couro cabeludo. Não pega bem ver os rastros dela, mas, tirando o aspecto estético, ela não causa maiores danos. A caspa pode surgir por fatores genéticos, emocionais e ambientais. Uma versão mais radical de problema no couro cabeludo é a psoríase, que forma uma placa avermelhada coberta de escamas.
Tipo assim
O que determina o tipo de cabelo — oleoso, seco, normal ou misto (raiz oleosa e ponta ressecada) é a quantidade de gordura produzida pelas glândulas sebáceas ligadas aos folículos pilosos. Quanto maior a produção das glândulas, mais oleosos serão os fios. Cada tipo requer xampus e produtos de tratamento específicos.
Passando em branco
Com o tempo, as células que fabricam melanina perdem a capacidade de produção e os fios começam a ficar grisalhos. Isso, em geral, ocorre por volta dos 30 anos e a primeira área a ter fios embranquecidos costuma ser a lateral da cabeça. Mas há uma "vantagem" nos cabelos grisalhos: como o espaço antes ocupado pela melanina fica cheio de bolhas de ar, os fios nascem bem fortes.
Do claro ao escuro
A cor do cabelo é determinada pela proteína melanina, produzida por células dos folículos pilosos. Quanto maior a quantidade de melanina, mais escuro será o cabelo. As crianças normalmente têm os fios mais claros porque a fabricação de melanina só aumenta na adolescência, incentivada pelos hormônios sexuais desse período.
Liso, crespo ou ondulado?
A forma do cabelo é determinada geneticamente e depende muito da posição em que os folículos pilosos se encontram sob o couro cabeludo. Veja quais são as principais diferenças:
Liso: Os folículos têm uma posição bem vertical e geram fios redondos (se analisados num microscópio).
Ondulado: Os folículos são um pouco mais inclinados que os de quem tem cabelo liso e geram fios ovais.
Crespo:  Os folículos ficam numa posição quase que paralela ao couro cabeludo e geram fios achatados.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Por que sentimos vontade de vomitar ao colocar o dedo na garganta?



Por puro reflexo! Quando colocamos o dedo no fundo da garganta ou mesmo na base da língua estimulamos terminações do nervo vago, que percorre o pescoço, o tórax e o abdome. Esse estímulo chega à área do cérebro responsável pelo vômito, produzindo primeiro a náusea e, em seguida, a expulsão do conteúdo do seu estômago. "É o que chamamos de vômito induzido", afirma o gastrocirurgião Wagner Marcondes, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Apesar de muitas pessoas recorrerem a esse método, por exemplo, após beber além da conta, todo cuidado é pouco. "Provocar o vômito com força pode causar feridas no esôfago e em casos raros até sua ruptura", diz o clínico geral Antônio Carlos Lopes, também da Unifesp. Outro problema sério que envolve o vômito induzido é a bulimia, desordem psiquiátrica que atinge principalmente mulheres jovens. "As pessoas comem, comem e em seguida provocam o vômito para eliminar o excesso", diz o gastroenterologista Décio Chinzon, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Além de poder estar associada à depressão, a bulimia causa graves prejuízos físicos, como a eliminação de potássio, mineral importante para o bom funcionamento do organismo e cuja falta pode levar à desnutrição. Dentes, esôfago e céu da boca são afetados pelo vômito induzido com regularidade: os dois primeiros se desgastam com o ácido que sai junto com os restos do estômago e o céu da boca fica machucado pelo dedo.
Huuuuuuugo!
Terminações nervosas ligam a garganta ao cérebro e ao estômago .
1. Quando você toca a garganta com o dedo, pressiona uma das várias terminações do longo nervo vago, que se estende da cabeça à região abdominal. Isso aciona o chamado centro do vômito, localizado na base do cérebro e também conectado a terminações do nervo vago.
2. Quando o estímulo produzido na garganta chega ao cérebro, este envia uma ordem de contração para a musculatura do estômago, do abdome e do tórax. Tanta pressão faz com que os alimentos que já estavam no estômago subam de volta para o esôfago.
3. Ao mesmo tempo em que o abdome se contrai, acontece o relaxamento e a abertura dos esfíncteres superior e inferior, válvulas musculares localizadas respectivamente na entrada do esôfago e do estômago. Com as válvulas abertas, o caminho para o vômito ser expelido fica livre.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Por que os cães comem grama de vez em quando?



Para melhorar seu processo digestivo. "É um comportamento normal e que não deve causar preocupação", afirma o veterinário Mauro Lantzman, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Embora não sejam vegetarianos, os cachorros, assim como outros animais carnívoros, como gatos, lobos e raposas, possuem esse hábito. "A fibra presente na grama ingerida pelo cão tanto melhora seu trânsito intestinal quanto provoca vômito no caso de o animal ter ingerido algum alimento que não lhe fez bem", diz Mauro. Isso acontece porque os vegetais têm a capacidade de irritar o estômago canino e provocar a rejeição daquilo que está causando náusea e dor, como alimentos impróprios e estragados. Os gatos também podem comer grama para expulsar do estômago, por meio do vômito, tufos de pêlo ingeridos durante as lambidas no próprio corpo. Já a ingestão de terra por totós e bichanos é um sintoma característico de deficiência de sais minerais (inclusive cálcio e fósforo) na dieta.
Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

É verdade que gatos de três cores só podem ser fêmeas?



Digamos que é quase verdade, já que menos de 1% dos gatos tricolores são machos e, ainda assim, frutos de uma anomalia cromossômica. Para entender como é definida a cor da pelagem dos gatos, primeiro é preciso saber duas coisas: essa característica é herdada dos pais do animal e os genes das cores (preto, branco e amarelo) estão presentes no cromossomo X. Na reprodução, a fêmea passa para o filhote um cromossomo do tipo X e o macho pode enviar um X, dando origem a uma fêmea (XX), ou um Y, formando um macho (XY). Cada gato, portanto, tem um par de genes relativos à cor e esses genes podem ser do tipo dominante ou recessivo. "Para uma fêmea ter três cores ela precisa possuir um cromossomo X com o gene amarelo e o outro X com o gene branco dominante", afirma a bióloga e doutora em genética animal Edislane Barreiros de Souza, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Assis (SP). No caso do macho, para ele ser tricolor, precisaria ter também dois cromossomos X (o com o gene amarelo e o com o branco), além do cromossomo Y, que o torna do sexo masculino. Isso resultaria numa aberração cromossômica. Quando tal raridade acontece, o gato tricolor (XXY) é estéril.
Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Até onde conseguimos ver no Universo?



Alexandre Versignassi
Por enquanto, conseguimos captar luz visível até uma distância gigantesca de 130 bilhões de trilhões de quilômetros (o número 13 seguido de 22 zeros) - ou 13 bilhões de anos-luz, se usarmos o jeito astronômico de medir distâncias. Tudo graças aos nossos melhores óculos para ver o céu, o telescópio espacial Hubble. O mais fascinante é que a habilidade desse aparelho para enxergar tão longe equivale, de certa forma, a uma viagem no tempo. Afinal, quando dizemos que uma coisa está a 13 bilhões de anos-luz, isso significa que a luz emitida por esse objeto levou justamente 13 bilhões de anos para chegar até aqui. Por isso, o Hubble enxerga não exatamente uma galáxia distante, mas a cara que ela tinha muito antes de a Terra ter se formado. Pela velocidade com que as galáxias se afastam umas das outras, estima-se que todas elas estavam aglutinadas em um ponto microscópico que explodiu em algum momento entre 13,7 bilhões e 15 bilhões de anos atrás. A uma distância dessas, tudo o que o Hubble consegue ver são quasares, corpos que surgem quando galáxias se chocam. Como a maior parte dos quasares está a pelo menos 10 bilhões de anos-luz, isso indica que nos primórdios do Universo as galáxias se espremiam em um espaço muito menor do que hoje, a ponto de uma bater na outra de vez em quando. Essa constatação impulsionou a teoria do big bang e a idéia de que o Universo está em expansão. Quando apontamos o olhar para longe, acabamos enxergando bem mais do que a gente espera!

O céu não é o limite
Observação do cosmo começou com as montanhas da Lua e não pára de nos surpreender.

Quando: Século 17
Descoberta: Anéis de Saturno

Quem encontrou: Galileu Galilei
O italiano foi o primeiro a usar o telescópio para fazer observações astronômicas. Com o instrumento, Galileu notou que a Lua não era lisa, mas pipocada de crateras e montanhas. Encontrou duas luas em Júpiter, mostrando que satélites não eram exclusividade da Terra, e viu anéis em Saturno. "Esse planeta parece ter orelhas!", escreveu o gênio italiano em suas anotações. No detalhe, um rabisco do próprio Galileu mostra como ele enxergou Saturno.

Quando: Séculos 18 e 19
Descoberta: Galáxias

Quem encontrou: William Herschel
O alemão Herschel enxergou manchinhas no céu parecidas com nuvens. Batizando-as de nebulosas, ele imaginou que fossem aglomerados de estrelas muito distantes. Herschel estava certo, mas a noção de galáxia só seria desenvolvida pelo astrônomo britânico Edwin Hubble, no começo do século 20. Abaixo, você vê Andrômeda, uma das galáxias estudadas pelo alemão, em três momentos da evolução da observação astronômica.

Quando: 1963
Descoberta: Quasar

Quem encontrou: equipe do National Astronomy Observatories (Estados Unidos).
Esses objetos são núcleos de galáxias com tamanho equivalente ao sistema solar, mas emitem 100 vezes mais radiação que uma galáxia inteira. Na representação artística da imagem maior, o quasar aparece como o jorro de raios no meio da espiral. Mas telescópios como o Hubble o vêem como uma "estrelona", já que o brilho do quasar ofusca a imagem da galáxia que está em volta dele.

Quando: 2004
Descoberta: Quasares mais distantes já observados.

Quem encontrou: equipe do Space Telescope Institute (Estados Unidos).
Até agora, esse é o máximo que conseguimos enxergar do cosmo. No detalhe, a imagem do telescópio Hubble mostra galáxias e quasares da forma como eles eram há 13 bilhões de anos, relativamente pouco tempo após o início do Universo. A foto precisou de 278 horas de exposição para ficar pronta.

Ecos da grande explosão Satélite da Nasa conseguiu mostrar como era o universo 300 mil anos depois do Big Bang.
Não vamos enxergar como era o Universo há muito mais que 13 bilhões de anos. Esta é a época da formação das primeiras estrelas e galáxias e a luz delas que nossos telescópios vêem. Antes disso, o Universo não passava de uma sopa quente de radiação. Mas pelo menos tivemos uma amostra daquela época. Na década de 90, o satélite Cobe, da Nasa, mostrou como era o Universo com 300 mil anos de idade, praticamente logo após ele ter surgido. A imagem mostra um "calor" de -270,7 ºC (em vermelho) espalhado por todas as direções do Universo — as regiões em azul eram mais frias que isso.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Como caça a orca, a "baleia assassina"?



Yuri Vasconcelos
Ela adota diferentes estratégias de acordo com o "cardápio" do dia. Uma das maiores predadoras dos oceanos, a orca (Orcinus orca) pode tanto atacar uma foca na beira da praia como  enfrentar no alto-mar baleias três vezes maiores que ela. Essa variedade de táticas a transformou numa eficiente caçadora, rendendo-lhe o apelido de "baleia assassina". É preciso esclarecer, no entanto, que a orca nem é bem uma baleia, nem é tão assassina assim. Embora faça parte da ordem dos cetáceos, ela é um tipo de golfinho - na verdade, o maior exemplar dessa família de animais, os chamados delfinídeos. A orca também não tem um instinto naturalmente agressivo e só mata suas presas quando tem fome. Os cientistas dividem essa espécie em dois grandes grupos: as residentes, conhecidas por viverem em territórios bem definidos e preferirem comer peixes (principalmente salmões), e as transeuntes, que nadam por vastas áreas e se alimentam até de baleias. Encontradas em todos os oceanos, das latitudes polares à zona equatorial, as orcas normalmente vivem em bandos de até 50 indivíduos. Graças à sua coloração, é um animal inconfundível: tem o dorso completamente preto e a barriga branca - atrás de cada olho também existe uma mancha branca. Os machos pesam em torno de 4,5 toneladas e medem mais de 8 metros - os filhotes, que demoram cerca de 16 meses para nascer, têm cerca de 2 metros. Devido à sua grande inteligência, a orca pode ser facilmente treinada e por isso é encontrada dando piruetas e fazendo malabarismos em shows aquáticos por todo o planeta.

Para cada presa, um ataque Até a gigante baleia-azul pode entrar no "cardápio" da fera.
DENTADURA POTENTE
Para pegar as mais diversas presas - de peixes a pinguins -, a orca conta com potentes músculos na boca e dentes que podem medir 10 centímetros. Máquina de caçar, ela é capaz de nadar a 50 km/h, mergulhar a 200 metros de profundidade e ingerir 135 quilos de carne por dia.
VÍTIMAS NUMA GELADA
Nas regiões polares, onde a superfície do mar congela, ela tem uma técnica especial de caça. Primeiro nada velozmente em direção às placas de gelo onde pinguins descansam. Depois, com o impacto, quebra o gelo de surpresa, vê a presa cair na água e a agarra.
BOTE À BEIRA-MAR
A orca é um dos raros cetáceos que nada até bem perto da praia para se alimentar. Ela se arrasta, quase encalhando, para apanhar focas e leões-marinhos, principalmente filhotes. Após abocanhar a vítima, usa as barbatanas peitorais para evitar o encalhe e voltar ao fundo.
BRIGA DE GENTE GRANDE
Para a orca, até mesmo o maior mamífero do planeta pode virar um almoço. Para caçar uma baleia-azul - que passa dos 30 metros -, as orcas atacam em bando. Ao acharem a presa, algumas cercam a baleia por trás, mordendo a cauda, enquanto outras a atacam por todos os lados.
ALMOÇO NO SONAR
As orcas emitem e captam sons, como uma espécie de sonar, e usam esse sofisticado sistema para capturar cardumes. Quando um som emitido por elas (ondas brancas) bate em um cardume e retorna (ondas azuis), as orcas vêem um "desenho sonoro" do bando de peixes. Aí, é só fazer a festa.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Como a coruja consegue virar a cabeça para trás?



O segredo está na coluna cervical do animal, que é formada por vértebras extremamente flexíveis, como mostra o infográfico abaixo. Entretanto, se você acha que só ela é capaz de realizar esse incrível contorcionismo, está enganado. "Todas as aves têm essa habilidade. Mas, como os olhos da coruja são frontais, a rotação da cabeça dela fica mais evidente", afirma a bióloga Elizabeth Hofling, da Universidade de São Paulo (USP). Os cisnes, por exemplo, têm quase o dobro das tais vértebras cervicais flexíveis que fazem a cabeça da coruja girar. O movimento realizado pela coruja também chama mais atenção que o de outras aves por causa da percepção equivocada que temos da grossura de seu pescoço - por baixo da densa plumagem, o pescoço dela é fino e articulável. Movendo a cabeça para um lado e para o outro, as aves podem ter uma visão mais ampla de onde se encontram. No caso das corujas, essa agilidade serve para compensar o fato de os olhos delas - grandes, mas quase imóveis - oferecerem um campo visual muito limitado.
Pescoço elástico
Vértebras especiais garantem rotação de até 270 graus.
1. Um dos segredos para a rotação da cabeça da coruja é o número de vértebras que ela possui na coluna cervical. Enquanto os mamíferos, por exemplo, contam com somente sete vértebras, as corujas possuem 14.
2. Além disso, essas vértebras, chamadas heterocélicas, são muito flexíveis. É que sua superfície de articulação tem a forma de uma sela de cavalo, o que permite uma amplitude de movimento maior. Essas duas características somadas permitem que a coruja consiga girar a cabeça em até 270 graus  três quartos de uma volta completa.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Como é feito um livro?



Se transformar palavras e idéias em um livro já é um troço bem complicado e trabalhoso, encontrar alguma editora que aceite publicá-lo é tarefa ainda mais difícil, especialmente para escritores novatos. E não é por falta de editoras. Apenas na Bienal do Livro de São Paulo deste ano, que será realizada entre os dias 15 e 25 de abril, serão quase 300 expositores. Quer mais? Segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro, existem cerca de 530 editoras no país que publicaram ao menos cinco livros no período de um ano e, só em 2002, foram lançados mais de 39 mil títulos. Os números parecem animadores, mas a verdade é que o mercado editorial brasileiro ainda precisa crescer muito se comparado ao de outros países. E exatamente por isso é tão difícil achar espaço para quem quer fazer e publicar um livro. No Brasil, a média de leitura por habitante é de 1,8 título por ano. Nos Estados Unidos são 5,1 e na França, a campeã nessa área, a média por pessoa é de 7 livros anuais. Por aqui, 61% dos adultos alfabetizados (aproximadamente 26 milhões de pessoas) têm muito pouco ou nenhum contato com livros. Com um mercado tão restrito, só poderia ser mesmo muito difícil arrumar editora para lançar uma nova obra. Muitos autores que não conseguem uma acabam pagando do próprio bolso a impressão de um manuscrito.
Capítulo por capítulo
Obra percorre um longo (e competitivo) caminho até a impressão.
1. O primeiro passo para publicar um livro é procurar a editora certa, pois existem as especializadas em livros técnicos, em esoterismo etc. Depois, o mais comum é enviar o original pelo correio. Só a editora Companhia das Letras recebe até 100 originais por mês. Aqui já começa a dificuldade: nem todos os trabalhos são lidos.
2. Se um editor ler o original, ele avalia se vale a pena publicá-lo. Se achar que sim, passa o original para outro editor. Ambos ainda podem pedir a opinião de um colaborador de fora da editora. Enquanto isso, o autor aguarda, ansiosamente, uma resposta, que costuma ser mandada pelo correio.
3. Se o original for aprovado está tudo certo? Que nada. Um editor fará sugestões de mudanças ao autor. Pode ser um corte de um terço do original ou simples trocas de palavras. O original rescrito é devolvido ao autor, que pode acatar, ou não, as sugestões.
4. Se autor e editora não se entendem, a obra não sai. Se há um acordo, ela segue para uma revisão no arquivo de computador. Depois o texto é formatado nas páginas do livro. Com ele "composto", são impressas cópias para duas revisões de "prova", com as páginas já com sua cara final.
5. Enquanto os revisores trabalham duro tentando encontrar erros nas "provas", começa a produção para a capa do livro. Um capista lê o texto e bola a melhor forma de "vendê-lo". O capista pode ser um designer ou um ilustrador e trabalhar na editora ou ser contratado só para aquele trabalho específico.
6. Quando a revisão acaba e a capa foi aprovada pelo autor, o livro é encaminhado para uma gráfica, onde será impresso — o que pode levar algumas semanas ou um mês. Os exemplares são então distribuídos para as livrarias e (ufa!) o autor pode curtir feliz sua noite de autógrafos.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Como funciona o sistema de segurança por reconhecimento de íris?



Ele transforma o desenho dos seus olhos em um código exclusivo para você. Mais especificamente, o dispositivo de segurança vai examinar as características da íris, aquela parte colorida do olho que, quando vista por um microscópio, se parece com uma almofada fofa, cheia de pequeninos vales e montanhas. A combinação desse "relevo ocular" com as várias nuances de pigmentação da íris faz com que cada uma delas seja única no mundo - nosso próprio rosto, por exemplo, abriga duas íris diferentes! A idéia de usar essa característica para identificar pessoas decolou na década de 90, quando foi criada uma técnica para converter a textura da íris em informações digitais. Apesar de eficiente, o método tem um problema inusitado: ele pode falhar com pessoas mais velhas. "Com o número de idosos aumentando, cresce também a quantidade de cirurgias de catarata. Esse tipo de operação muda a forma da íris, o que pode atrapalhar o sistema de segurança", diz o oftalmologista Paulo Augusto Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Se o reconhecimento da íris pegar mesmo, não vai faltar quem precise fazer recadastramento de olho depois de aposentado...
Num piscar de olhos
Computador converte os tons e a textura do órgão em um código digital.
1. Toda vez que alguém se aproxima do dispositivo de segurança, um sensor de movimento liga a câmera de reconhecimento de íris. Sem precisar encostar o rosto no aparelho, a pessoa encara a câmera por 2 segundos. Nesse tempo, a máquina "escaneia" o rosto para encontrar a posição dos olhos.
2. No passo seguinte, a câmera fecha o foco apenas na íris. O relevo e as cores dessa parte do olho são lidas pelo computador como uma imagem em preto-e-branco com inúmeras variações de luminosidade. Em seguida, esse código pessoal segue para o processador da máquina.
3. Como cada íris tem características únicas de forma e cor, a margem de erro do sistema é virtualmente nula. O matemático inglês John Daugman, criador do método, fez um estudo com 2 mil pessoas e concluiu que a possibilidade de encontrar duas íris idênticas é de uma em 1 trilhão - o que passa com folga os 12 bilhões de íris humanas que existem no planeta.
4. No último estágio, as informações da íris são traduzidas numa sequência digital de 2 048 algarismos. Essa senha vai para o banco de dados da máquina, que a compara com os códigos já cadastrados. Se a informação bater com um deles, a pessoa tem autorização para entrar e a máquina libera o acesso à porta.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Quantos tipos de manga existem?



Até agora, já foram reconhecidas mais de 1 600 variedades da fruta em todo o mundo. A grande quitanda natural de mangas é a Índia. Só por lá, estima-se que existam mais de mil tipos. A profusão dessa delícia tropical no Sudeste Asiático não é mero acaso: tudo indica que a região seja o berço da manga, onde a fruta já era cultivada há mais de 4 mil anos. No século 16, os portugueses retiraram sementes da Índia para plantar na África. Ainda pelas mãos dos lusitanos, a fruta chegou ao Brasil por volta de 1700. Nosso país foi o primeiro a cultivar a manga na América e hoje ocupa o nono lugar na produção mundial. Por aqui, algumas das variedades mais populares são a manga-rosa, a espada, a bourbon, a ubá e a tommy atkins. "Dependendo do tipo, os frutos têm características bem diferentes. Há mangas redondas, ovais, alongadas ou finas, pesando entre 100 gramas e 2 quilos. Dá para chupar as fibrosas, enquanto as moles são consumidas com colher", afirma o engenheiro agrônomo João Gomes da Costa, da Embrapa Semi-Árido, em Petrolina (PE). Muita gente confunde a manga com algumas de suas "parentes". É o caso da cajá-manga ou cajarana, que, apesar de pertencer à mesma família da mangueira, é uma espécie diferente de planta. A mesma coisa vale para o caju, o cajá e o umbu. Em termos nutricionais, a manga é uma boa pedida para completar as necessidades diárias de vitaminas. "A polpa é rica em vitaminas A e C. Também dá para conseguir uma quantidade razoável de niacina e tiamina, duas vitaminas do complexo B, e sais minerais como fósforo", diz João.
Forasteira popular

A variedade mais plantada no Brasil e no mundo veio dos Estados Unidos.
MANGA TOMMY ATKINS
As primeiras plantações surgiram na década de 20, na Flórida, nos Estados Unidos. Hoje, é a variedade mais produzida em todo o mundo. No Brasil, onde a fruta responde por 80% da área cultivada, a tommy é usada para consumo natural e na produção de sucos e sorvetes.
MANGA ESPADA
Essa variedade alongada e achatada nos lados é considerada um dos tipos mais antigos do Brasil. Apesar de a polpa representar pouco mais da metade do peso do fruto (casca e semente respondem por 43% do total), a espada é uma das mangas mais consumidas no país por causa da grande produção e do preço baixo.
MANGA-ROSA
Originada em Pernambuco, a manga mais famosa do Nordeste deve seu nome à cor vermelho-rosada da casca. O fruto arredondado é bom para o consumo natural e rende bem em sucos, já que a polpa equivale a 67% do fruto. A variedade é muito vendida no Centro-Oeste e, claro, nas capitais nordestinas.
MANGA BOURBON
Excelente para o consumo natural e industrializada como manga em calda, a bourbon é cheia de fibras e saborosa. Como na maioria das outras variedades, os teores de vitamina C são maiores entre os frutos verdes que nos maduros. Atualmente, a bourbon é popular em São Paulo e produzida principalmente no Centro-Oeste.
MANGA UBÁ
O nome dessa manga é uma homenagem à cidade de Ubá, em Minas Gerais, onde ela começou a ser cultivada. A mangueira que dá origem a esse tipo é bem produtiva, rendendo mais de mil frutos por ano. Bastante usada pela indústria de sucos, a ubá é uma das variedades que possui altos teores de vitamina C.

 Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Existem mais grãos de areia na Terra ou estrelas no céu?



Essa é uma pergunta que ainda não tem resposta definitiva. Se o Universo realmente for infinito, como afirmam os estudos mais aceitos pela maioria dos astrônomos, o número de estrelas também não terá fim, e obviamente esse total será maior que a quantidade de grãos de areia na Terra. Mas a questão não é tão simples assim. "Se somarmos o número de estrelas na região do chamado Universo observável, uma área com raio de 15 bilhões de anos-luz em que a radiação é captável por nossos telescópios, teremos um total que oscila entre 1 sextilhão e 1 septilhão de estrelas - o número 1 seguido por uma fileira de 21 e de 24 zeros, respectivamente", diz o astrônomo Laerte Sodré Júnior, da Universidade de São Paulo (USP). Achou muito? Pois se essa quantidade nos servir de comparação, os grãos de areia da Terra provavelmente levam a melhor. "Só para dar uma idéia, se considerarmos grãos com um diâmetro médio de 0,4 milímetro, caberia 1 septilhão de grãos em uma área desértica quadrada, com 100 quilômetros de lado e 3,2 quilômetros de profundidade. Não é uma área tão grande: se somarmos toda a areia das praias, dos desertos e do fundo dos oceanos, o total de grãos deve ser muito maior que o de estrelas no Universo observável", afirma Laerte. No final, essa confusão confirma a célebre frase de Hamlet, personagem criado há quatro séculos pelo dramaturgo inglês William Shakespeare: "Há mais coisas no céu e na terra do que pode sonhar tua filosofia"...
Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Como era realizado o ritual do haraquiri?



Cíntia Cristina da Silva
Esse ritual japonês de suicídio era todo cercado por regras e cerimônias. Os grandes guerreiros que o realizavam se preparavam com banhos de purificação, escreviam poemas e até contavam com testemunhas. O ato visava, na maioria das vezes, reparar a honra do suicida, manchada, por exemplo, por alguma conduta indigna. Em japonês, o termo haraquiri significa algo como "cortar a barriga" e é uma formar vulgar de se referir ao seppuku ("cortar o ventre"), a expressão mais nobre para esse tipo de suicídio. O ritual fazia parte do código de ética dos samurais, grandes guerreiros nipônicos do passado. No chamado período feudal, entre os séculos 12 e 19, o Japão foi governado por grandes proprietários de terras, conhecidos como daimiôs, que costumavam ter um exército particular, composto por samurais. Estes eram muito habilidosos com a espada, virtuosos e só podiam servir a um único daimiô na vida. Assim, não era incomum que, quando um mestre morresse, o samurai resolvesse segui-lo. "Um ditado samurai diz: ‘Perca a honra e a vida também estará perdida’. Além da honra, o seppuku era uma maneira de demonstrar a lealdade a seu senhor e acompanhá-lo no além-morte", diz o especialista oriental na arte de espadas Jorge Kishikawa, fundador do Instituto Cultural Niten, em São Paulo. O ritual podia ser feito no campo de batalha, para evitar a captura pelo exército inimigo, ou de forma mais cerimoniosa, com o suicida se preparando previamente para a morte. O primeiro seppuku de que se tem registro é do ano 1170, quando o samurai Minamoto Tametomo se suicidou atirando-se sobre sua própria espada, após a derrota para um clã rival. Já o último ritual famoso aconteceu em 1970 e foi feito pelo grande escritor japonês Yukio Mishima, três vezes indicado ao prêmio Nobel de literatura.

Só para samurais
Cerimônia de suicídio tinha banho, saquê, último poema e até golpe de misericórdia.
1. O haraquiri, ou seppuku, começava com o samurai se preparando com um banho, que ele acreditava servir para purificar o corpo e a alma. O guerreiro convidava amigos e parentes para testemunhar sua morte e a reconquista da honra perdida e podia usar um traje especial, na cor branca, para simbolizar caráter íntegro e virtuoso.
2. O local escolhido para a cerimônia podia ser o interior de uma casa, mas normalmente era a céu aberto, como em um jardim budista. O seppuku só não podia ser feito nos jardins de templos xintoístas, lugares sagrados que não deveriam ser profanados com a morte.
3. O samurai se acomodava sentado sobre as pernas, escrevia o último poema numa mesinha de madeira e tomava o último saquê em dois goles. Depois posicionava a lâmina da espada no lado esquerdo do abdome e golpeava a si mesmo. Após o primeiro corte, os mais bravos traziam a espada até o centro do corpo e a levantavam, visando atingir o centro do abdome. Os japoneses acreditavam que ali se localizava a alma.
4. Para se autogolpear, o guerreiro usava uma espada curta (de 30 a 60 centímetros) chamada wakizashi. Ele a empunhava segurando um lenço branco.
5. O kaishakunin, "o segundo", era um outro samurai muito habilidoso que acompanhava a cerimônia. Ele podia ser um amigo do suicida ou até um inimigo, que, em reconhecimento à bravura do rival, oferecia-se para acompanhar sua morte.
 6. A função do seppuku era infligir ao suicida um ferimento fatal e doloroso. Mas, como a morte às vezes levava horas, o kaishakunin podia dar um golpe de misericórdia para acabar com a vida do guerreiro, que já tinha provado sua coragem. O golpe único no pescoço precisava ser preciso, mantendo a cabeça presa ao corpo por um pedaço de pele. Fazer ela rolar pelo chão era considerado uma grande falta de respeito.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Qual é o disco de música pop mais raro e valioso do mundo

?


José Augusto Lemos
Só pode ser um compacto de 78 RPM, de 1958, do grupo Quarrymen, embrião dos Beatles - formado por John Lennon, Paul McCartney e George Harrison, mas sem Ringo Starr. No lado A, o disco traz uma versão de "That’ll Be the Day", clássico de Buddy Holly, um dos maiores nomes do rock’n’roll dos anos 50. No lado B, encontra-se "In Spite of All the Danger", raríssima parceria gravada entre McCartney e Harrison. Existe só uma cópia desse compacto, pertencente ao próprio Paul McCartney, que a arrematou do dono anterior por uma quantia não divulgada - especula-se que, no mínimo, 1 milhão de dólares. O lado A havia sido lançado em alguns discos piratas, mas o B permaneceu inédito até 1995, quando saiu a coletânea Anthology, primeiro lançamento oficial de ambas as faixas.
Já o disco comercial mais valioso é a edição original de Yesterday and Today (1966), dos Beatles, recolhida logo após o lançamento por causa da capa, considerada chocante, em que o grupo aparece vestido com aventais de açougueiro, nacos de carne e bebês de plástico desmembrados. Um exemplar foi vendido, recentemente, em um leilão por 38 500 dólares.
Em segundo lugar, vem a primeira edição do álbum The Freewheelin’ Bob Dylan (1963), contendo as quatro faixas que, nas edições seguintes, seriam retiradas de circulação pela gravadora, por considerá-las mórbidas ou politicamente fortes demais: "Let Me Die in My Footsteps" ("Deixem-me Morrer nos Passos de Meus Pés"), "Rocks and Gravel" ("Rochas e Brita"), "Talkin’ John Birch Blues" ("Blues Falando como John Birch", nome de uma figura que representa a extrema direita na política americana) e "Gamblin’ Willie’s Dead Men’s Hand" ("A Mão dos Mortos de Willie, o Apostador"). Um exemplar em bom estado pode alcançar facilmente 15 mil dólares em leilões para colecionadores.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Como se forma uma nuvem de gafanhotos

?


Rodrigo Ratier
Essas impressionantes formações, que podem se estender por uma área de vários quilômetros e reunir milhões de insetos, surgem quando ocorre um aumento exagerado na quantidade de gafanhotos de uma região. Nesse caso, como não há alimento suficiente para sustentar todos os insetos do bando, o grupo se desloca em busca de comida, o que pode incluir plantações e áreas agrícolas. Embora o bicho não cause doenças, o prejuízo econômico de uma nuvem de gafanhotos pode ser enorme. Até agora, os cientistas sabem que esses surtos de explosão populacional dos insetos estão relacionados a alterações climáticas. Mudanças na temperatura, na umidade do ambiente ou no índice de chuvas podem fazer com que mais gafanhotos nasçam a partir dos ovos postos pelas fêmeas. Nem todos os tipos de gafanhotos, porém, formam essas nuvens de ataque. "Das 400 espécies conhecidas, cerca de 50 são nômades e só umas dez causam prejuízos às plantações. O problema é mais grave na África e na Ásia. No Brasil, a única espécie nômade que se une em nuvens é a Rhammatocerus schistocercoides, que vive no Mato Grosso", diz o biólogo Ivo Pierozzi Júnior, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Campinas (SP). As infestações de Rhammatocerus começaram com o avanço das plantações no Centro-Oeste, no início dos anos 80. Antes, o bicho se alimentava do mato do cerrado, um ecossistema que vem sendo devastado com a expansão da área agrícola. Quando uma nuvem ataca, o único jeito é apelar para as aplicações de inseticida, que diminuem a concentração de insetos, mas também agridem o ambiente. "O ideal é impedir que as nuvens se formem, combatendo os gafanhotos quando os grupos ainda são pequenos", afirma Ivo.

Bando faminto
Insetos brasileiros se deslocam dezenas de quilômetros por dia 100 metros de altura.
1. Uma nuvem de gafanhotos, como as da espécie brasileira Rhammatocerus schistocercoides, começa a se formar quando a população cresce e precisa buscar comida em outras áreas. Esse aumento no número de insetos nascidos depende do clima na hora da reprodução.
2. Depois de um mês, os ovos eclodem e dão origem a gafanhotos jovens, chamados de ninfas. Seu prato preferido são vegetais como o arroz, o milho e a cana. A essa altura, a busca por comida é feita por terra: como os gafanhotos ainda não têm asas, eles só pulam, movendo-se até 100 metros por dia.
3. Cinco meses após o nascimento, o gafanhoto já tem asas e mede de 5 a 7 centímetros. Se a concentração de insetos numa área for grande, eles se juntam em bandos e viajam em nuvens voadoras em busca de alimentos. Em suas jornadas, o Rhammatocerus chega a até 100 metros de altura e se desloca dezenas de quilômetros por dia.
4. No ataque às plantações, o gafanhoto brasileiro é um gourmet exigente: ele ataca apenas a base das espigas das plantas, porque é nessa região que se concentra a seiva bruta, o alimento rico em açúcares que vai nutrir os frutos. Depois de destruir a plantação, os insetos saem voando em busca de mais comida em outro lugar.
5. A única saída para combater as nuvens de gafanhotos é aplicar inseticidas nas plantações. Se nada for feito, a infestação acaba naturalmente no final do ciclo de vida do gafanhoto, que dura um ano e se encerra depois da reprodução.

Salto campeão
O segredo do pulo do gafanhoto é o fêmur grosso, que, para o Rhammatocerus, possibilita saltos de até 2 metros de altura e de distância.

Família grande
Uma fêmea de Rhammatocerus costuma pôr 25 ovos a cada postura. Como elas se repetem ao longo do dia, uma única fêmea pode liberar centenas de ovos em 24 horas.

Aventura alada
Cada gafanhoto possui dois pares de asas, mas apenas as de trás mexem-se para cima e para baixo durante o vôo. As asas da frente, que ficam paradas, servem para proteger e sustentar o bicho no ar.

Corte afiado
Apesar de não ter dentes, o gafanhoto rói o caule das plantas graças a dois pares de órgãos cortadores, a mandíbula e a maxila. Eles arrebentam e trituram o caule, facilitando a digestão.

Pragas bíblicas
Espécies egípcias devastam a África.
Segundo a Bíblia, a invasão dos gafanhotos é a oitava das dez pragas que Deus lançou no Egito para libertar o povo hebreu escravizado por um faraó. Pela área de ocorrência desses bichos, as espécies mencionadas no Antigo Testamento devem ser a Schistocerca gregaria e o gafanhoto conhecido como Locusta migratoria. Elas atingem altitudes de até 3 mil metros e pegam carona em correntes de ar. Os gafanhotos bíblicos viajam por milhares de quilômetros sem escalas de até três dias, cruzando o Atlântico.

Revista Mundo Estranho Edição 26/ 2004

Qual camisinha é melhor: a masculina ou a feminina?



Jairo Bouer
Se o uso for correto, seguindo as instruções indicadas, a segurança das duas é muito semelhante. A camisinha masculina é feita de látex (borracha), oferece uma boa proteção contra a aids e outras doenças transmitidas pelo sexo (DSTs) e também evita uma gravidez indesejada. Para que a prevenção seja mais eficaz, o preservativo dever ter selo de garantia do Inmetro (que atesta a qualidade do produto) e ser guardado em local fresco e protegido do sol - portanto, nada de deixá-lo vários dias dentro do carro! A embalagem também não deve ficar muito tempo na carteira, o que pode danificar o material.
Coloque a camisinha desde o início da relação sexual - nada de "brincar um pouquinho" antes - e, na hora de abrir o pacote, cuidado para que unhas ou dentes não estraguem a borracha. Assim que acontecer a ejaculação, a camisinha deve ser tirada para evitar vazamentos.
O preservativo feminino, por sua vez, é feito de um plástico resistente (poliuretano), que tem pouco risco de se romper. Pode ser uma opção muita boa para quem tem alergia ao látex da versão masculina (cerca de 1% da população), mas leva a desvantagem de ter um preço cerca de três vezes maior.
A colocação da camisinha feminina (também na hora em que vai começar a relação) pode demorar um pouco mais e é uma boa a mulher "ensaiar" sozinha, seguindo as orientações de uma enfermeira ou de um ginecologista. Um pedaço do preservativo fica para fora da vagina, cobrindo os grandes lábios e evitando o contato direto com o pênis. Também é importante prestar atenção se o pênis está entrando mesmo na camisinha e na hora de mudar de posição.
Relativamente novo no Brasil, o preservativo feminino tem tido uma aceitação razoável. Mas só mesmo testando os dois métodos o casal vai poder saber com qual deles se sente melhor.

Revista Mundo Estranho Edição 26/2004